terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O desafio de salvar a onça na Amazônia


O grupo de pesquisadores com a onça-pintada
na floresta amazônica. Foto de Eduardo Von Mühlen/Divulgação

REPORTAGEM EXCLUSIVAA foto acima foi feita na floresta amazônica em novembro deste ano e mostra uma linda fêmea onça-pintada (Panthera onca)que acaba de ganhar um colar de identificação e de transmissão de localização via sistema GPS. Foi enviada da selva diretamente para este blog. É um momento de uma pesquisa de ponta com um dos mais belos mamíferos de nossa fauna, a onça-pintada, espécie que o País tem a obrigação de preservar. A sedação do animal e a colocação do colar foi feita dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. É nesta Reserva que se desenvolve um projeto especial e trabalhoso, que busca estudar esse felino em seu habitat, conhecer seu comportamento e integrar um plano de preservação às comunidades da floresta. Ambicioso? Esses cientistas, entre os quais biólogo, estão tentando o novo caminho. A anestesia das onças e a colocação de colares com transmissão via GPS é um dos passos fundamentais para o projeto: os pesquisadores poderão saber agora, por exemplo, se essa onça-pintada da foto costuma se aproximar de áreas de risco, que são as propriedades rurais e estradas, quais as suas rotas de fugas e locais de caça. A pesquisa faz parte do Projeto Iauaretê, pertencente ao Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. O coordenador do projeto é Emiliano Esterci Ramalho.
O biólogo Pedro Meloni Nassar, que integra a equipe de pesquisa, concedeu entrevista a este blog por e-mail, escrevendo diretamente da selva amazônica. Leia a seguir a entrevista:
A belíssima onça-pintada sedada na floresta.
/Foto de Pedro Meloni Nassar/Divulgação
AnimaisOK –  O que é o projeto Iauaretê?
Pedro Meloni Nassar – O Projeto Iauaretê atua em várias vertentes. Procuramos saber sobre a ecologia da região e o comportamento da onça-pintada (Panthera onca) na várzea – as áreas alagáveis da Amazônia–, entender quais os conflitos entre a espécie e os moradores locais e como mitigá-los. Procuramos também trabalhar com educação ambiental nas comunidades e buscamos novas atividades e meios de arrecadar fundos para a pesquisa e para a conservação desse animal, por exemplo por meio do ecoturismo.
AnimaisOk – Qual a razão para a fixação do colar de identificação nas onças?
Pedro Meloni NassarO nosso principal objetivo no momento é a colocação do GPS-colar nos animais capturados, que nos fornecerá dados quase que instantâneos de onde o animal está. Desse modo, poderemos entender o padrão de movimentação da onça-pintada na região, tal como as áreas que ela prefere ficar, se fica na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá durante a época de cheia ou não, se anda próximo às comunidades, etc. Sabendo isso, podemos traçar estratégias de pesquisa, de manejo de animais de criação nas comunidades ribeirinhas, promover o ecoturismo e incluir os moradores locais na pesquisa.

AnimaisOk – O projeto busca uma integração com as  comunidades da região?
Pedro Meloni NassarNossa pesquisa procura unir a onça-pintada e a população local em uma ação que objetiva a conservação desse animal e a melhora da qualidade de vida das pessoas. Nós partimos do princípio de que, para se chegar ao objetivo da conservação, são necessárias pesquisas científicas sobre o tema que se quer conhecer e envolver a população na questão é fundamental, seja gerando benefícios econômicos através do meio ambiente, seja por meio da educação ambiental.

AnimaisOk – Neste contexto, o que você destacaria?
Pedro Meloni Nassar Gostaria que os leitores entendessem duas coisas: as pesquisas são feitas para tirar nossas dúvidas, levantar questões, aguçar a curiosidade, tentar mostrar como funcionam as coisas. Quando a gente lê um artigo, ouve um pesquisador falar sobre o trabalho e seus resultados, muito se clareia na nossa mente. Outras dúvidas aparecem e isso faz o mundo girar, porque alguém vai correr atrás e buscar explicar aquilo. Segundo, o mundo sem os animais, no mínimo, ficará mais feio e chato. É um prazer acordar e pensar na possibilidade de observar um boto, uma onça, ver as araras voando pela cidade ou ouvir um sabiá cantando de manhã. Observar, tocar ou sentir a presença de um animal muda a vida de uma pessoa e esperamos que eles sempre existam em riqueza e diversidade.

Frase destaque:

"O mundo sem os animais, no mínimo, ficará mais feio e chato. É um prazer acordar e pensar na possibilidade de observar um boto, uma onça, ver as araras voando pela cidade ou ouvir um sabiá cantando de manhã" (biólogo Pedro Meloni Nassar).


Conheça o blog do entrevistado: http://brasilesuafauna.blogspot.com.br/

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