quarta-feira, 30 de outubro de 2013

"Há métodos mais evoluídos que dispensam os testes em animais", diz o deputado Ricardo Tripoli.

 
Deputado Ricardo Tripoli/Divulgação
ENTREVISTA EXCLUSIVA

No meio da confusão que surgiu nas Redes Sociais logo após a invasão e resgate de 178 beagles do Instituto Royal – animais utilizados em testes científicos –, localizado em São Roque, no interior de São Paulo, o advogado, ambientalista e deputado federal (PSDB) Ricardo Tripoli, 60 anos, foi uma voz corajosa e esclarecida que ajudou a dar orientação aos protetores e à população. Formado em Direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e com larga experiência no Congresso Nacional, Ricardo Tripoli ofereceu apoio de seu escritório para aqueles que resgataram os beagles, de forma a assegurar o legítimo direito de defesa de todos. Tripoli foi além: ao tomar conhecimento de que dois cães (fêmeas) que eram utilizados em pesquisas no Royal foram encontrados nas ruas de São Roque ele foi à delegacia local e assumiu a responsabilidade pelos animais, colocando-se como fiel depositário, um colaborador da Justiça. Os dois beagles estão em sua casa em São Paulo. O parlamentar ambientalista concedeu entrevista exclusiva ao blog AnimaisOK sobre o papel do Congresso neste episódio. Leia a seguir:


AnimaisOK – A invasão e o resgate de 178 beagles do Instituto Royal, em São Roque (SP), estimulou o debate no País sobre o Bem-Estar Animal e as pesquisas científicas com cobaias. Qual o papel do Congresso Nacional neste momento?
Ricardo Tripoli O Congresso Nacional é a caixa de ressonância do País. Todos os assuntos que são relevantes para a vida prática dos cidadãos são discutidos no âmbito das Comissões Permanentes e nos Plenários da Câmara e do Senado. No caso específico envolvendo o Instituto Royal, instauramos no Parlamento, uma Comissão Externa para investigar o assunto. Também foi realizada audiência pública para o debate e a cobrança de investimentos em métodos substitutivos ao uso do animal. Debateu-se o interesse e a confiança da comunidade científica em pesquisas que sejam realizadas desta forma. Há inúmeros projetos de lei em tramitação que tratam da temática.

AnimaisOk – O Instituto Royal fez segredo sobre suas pesquisas. Neste momento, o cidadão brasileiro pede, antes de tudo, transparência. Há como exigir que institutos como o Royal sejam obrigados a dar informações à comunidade, ao parlamento, sobre suas pesquisas?
Ricardo Tripoli Claro que sim. É exatamente neste sentido que o nosso trabalho de apuração está sendo realizado. Como relator da Comissão Externa que investiga o caso, estou recebendo e reunindo documentos referentes ao funcionamento do Instituto Royal.  Já temos algumas informações que serão anexadas ao relatório e apresentadas em breve. No próprio estatuto do Instituto Royal, em seu artigo 2.º, há  determinação de que as informações sejam divulgadas. Segundo o documento, o instituto fica obrigado a divulgar informações adquiridas durante o desenvolvimento dos projetos, pesquisas e ações realizadas.

AnimaisOk – O que é o Código Federal do Bem-Estar Animal, que o sr. propõe?
Ricardo Tripoli – É o Projeto de Lei 215/2007. A proposta institui o Código Federal de Bem-Estar Animal e surgiu da necessidade de acabarmos de vez com os maus tratos promovidos contra os animais no País. O projeto é importante porque estabelece normas para as atividades de controle populacional e de zoonoses, experimentação científica e criação. A proposição atende ao padrão mundial que reprova os maus-tratos aos animais. O principal objetivo do Código é assegurar que os animais fiquem livres de ferimentos, doenças, fome, sede, desconforto, dor, medo e estresse. Como o projeto é extenso seu processo de elaboração foi longo, fruto de intensos debates. Contamos com a participação de vários segmentos da sociedade civil organizada e do meio acadêmico.  O projeto institui, por exemplo, normas de bem-estar na criação, reprodução, manejo, transporte, comercialização e abate dos animais destinados ao consumo ou para produção de subprodutos.

AnimaisOK – O que falta para esse Código ser aprovado?
Ricardo Tripoli – Apresentei o Código em fevereiro de 2007, portanto, logo no início da 53.ª legislatura. Em novembro do mesmo ano, a Mesa Diretora decidiu que projeto fosse analisado por uma Comissão Especial, composta de 17 membros titulares e de igual número de suplentes, mais um titular e um suplente, atendendo ao rodízio entre as bancadas não contempladas. Estamos aguardando que as lideranças partidárias indiquem seus respectivos membros. Em relação a sua tramitação, percebemos que existem resistências fora do Congresso Nacional, pois fixamos normas que restringem o uso de animais em experimentação científica. Infelizmente não há como prever a aprovação de nenhuma proposição legislativa no Congresso Nacional. Sabemos que a apreciação e aprovação dos projetos não depende apenas da vontade de seus autores, mas da disposição política dos líderes partidários e dos membros da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.

AnimaisOk - O sr. ofereceu apoio jurídico aos ativistas que resgataram os beagles, O sr. ficou com a guarda de dois cães. Há o risco destes cães serem devolvidos ao instituto? O que se pode fazer na Justiça para impedir isso?
Ricardo Tripoli Disponibilizei a equipe jurídica do meu escritório de advocacia. Como parlamentar, meu apoio aos animais permanece mantido, pois além de plataforma de atuação política, o faço por ideal. Acredito que não há o risco de os cães serem devolvidos. Sou fiel depositário. Um colaborador da Justiça. Sou responsável por elas, que além de animais adoráveis, são prova neste processo.  Evidentemente, por questões de ordem social, estratégica, além daquelas de ordem técnica, os animais resgatados não se prestam mais à pesquisa. O Instituto, inclusive, já se manifestou no sentido de doá-los, todos. Mas, se preciso for, as defenderei judicialmente. Estou cuidando delas e pretendo fazê-lo sempre. Quem estiver com os animais e não puder mantê-los ou cuidar devidamente deve se responsabilizar. Ou se sentir mais confortável, disponibilizá-los à Justiça, que fará o encaminhamento a depositários: pessoas físicas ou organizações de proteção animal, para futura adoção.

AnimaisOk – Qual sua posição sobre as pesquisas feitas com animais (cães, roedores e coelhos)?
Ricardo Tripoli – Penso que há métodos mais evoluídos que dispensam a utilização de animais em testes dessa natureza. Enquanto nossa legislação não mudar, é necessário que sejamos todos conscientes do consumo dos produtos que não sejam testados em animais, e não produzidos com matérias primas de origem animal.






Quem é Ricardo Tripoli
Ricardo Tripoli, 60 anos, graduado em Direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Filho de Ricardo Alvarenga Tripoli e Esther Nazello de Alvarenga Tripoli. Casado com Suzana Guimarães Tripoli, pai de três filhos, Bruno, Bianca e Giovanna. É ambientalista, advogado e atualmente deputado federal pelo PSDB (SP).
A trajetória política de Tripoli começou em 1982, quando foi o 3º vereador mais votado do município de São Paulo. Em 1983, foi nomeado Secretário de Negócios Extraordinários pelo então prefeito Mario Covas. De volta à Câmara, é indicado por Covas líder do Governo. Com a eleição de Jânio Quadros, vai para a oposição. Em 1990, foi eleito deputado estadual pelo PSDB, partido onde atua desde a sua fundação. Reeleito em 1994, foi autor da lei do ICMS ecológico, que destina mais recursos para municípios com parques, reservas biológicas e estações ecológicas. Nesse mandato, eleito presidente da Assembleia Legislativa, procedeu sua reestruturação e trabalhou para a modernização da Casa, que conseguiu o Prêmio ISO 9002.
Reeleito deputado estadual pela segunda vez, Tripoli promoveu estudos e elaboração de propostas para regulamentação ambiental (Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro do Litoral Norte) e também implantou o programa de educação ambiental e de preservação da Mata Atlântica (PPMA). Em 1999, assumiu a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, foi eleito presidente do Consema (Conselho Estadual do meio Ambiente) e recebeu o prêmio top de Ecologia pelo projeto “São Paulo Pomar, Mais Verde Mais Vida”.
Em seu quarto mandato como deputado estadual, assumiu a presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa. Também foi líder do PSDB na Assembleia entre 2005 e 2006.
Em 2007, Tripoli chegou à Câmara dos Deputados com a preferência de mais de 157 mil eleitores. No início da legislatura apresentou o projeto que institui o Código Federal de Bem-Estar Animal, que estabelece normas de controle populacional e de zoonoses, experimentação científica e criação. 


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